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  • Foto do escritorO Caleidoscópio

#26 [Ap 3:14-22] Carta à igreja em Laodiceia


João escreve a sua última carta destinada às igrejas. Sendo a carta derradeira, João apresenta a ideia de final, encerramento e desfecho. Cristo é apresentado como sendo o “Amém” (Ap 3:14), ou seja, a conclusão, o clímax de todas as promessas feitas por Ele, desde a primeira carta até a última. Essa expressão possui fortes paralelos com a expressão em Isaías 65:16: “Deus da verdade” ou “Deus do Amém”.


A palavra “amém” é comumente usada na Bíblia (no AT e NT) para certificar e assegurar uma declaração absolutamente verdadeira e fidedigna. Sendo usada muitas vezes pelo próprio Jesus nos evangelhos, como por exemplo, em João 1:51; 3:3, 5, 11: “Em verdade (amém), em verdade (amém), lhes digo…”.


Por esse motivo que, parte da descrição de Jesus em Apocalipse 3:14 é “a testemunha fiel e verdadeira…” (Ap 3:14). Ele é a testemunha em que podemos depositar toda a nossa confiança e ter a certeza que a promessa de redenção através de Sua vinda descrita nas cartas é verdadeira e irá se cumprir (Ap 3:11; 1Co 1:20).


A parte final da caracterização de Cristo está em Apocalipse 3:14, e se refere não apenas ao fim, mas também ao “princípio da Criação de Deus”. Ele é o fim, mas também o princípio de todas as coisas, não só Redentor, mas também o Criador. O único que tem o poder, soberania e domínio sobre tudo e todos (Ap 22:13). Assim, as igrejas poderiam confiar na mensagem e no Deus da mensagem.


A 70 km ao sul da igreja de Filadélfia, localiza-se este último destinatário: Laodiceia. Renomada por sua prosperidade e riqueza, era um dos maiores centros comerciais e financeiros do mundo. Conhecida extensamente pela sua produção de tecidos para roupas e tapetes, eram exportados mundialmente.


Ficou famosa também pelas transações bancárias, acumulando grande quantidade de ouro. Além disso, tinha uma escola de medicina respeitada especializada no tratamento de doenças oftalmológicas, lá confeccionavam um colírio especial feito de “pó frígido” e óleo.


Orgulhosa pelo seu status diferenciado dentre as cidades, recusou até ajuda vinda do imperador romano quando a cidade foi destruída por um terremoto (60 d.C.), reconstruindo a cidade com recursos próprios. Esse breve panorama nos ajuda a entender o motivo pelo qual o discurso da igreja em Laodiceia é: “Sou rico, estou bem de vida e não preciso de nada” (Ap 3:17b). O tipo de comportamento dos cidadãos de Laodiceia era o mesmo dos cristãos dessa cidade. A atitude autossuficiente e orgulhosa impregnou-se também na igreja.



Mas a cidade de Laodiceia tinha grande problema estrutural: a água. Se interpretarmos o conceito em Apocalipse 3:15-16 geograficamente, vamos perceber que apesar de toda a sua riqueza e recursos, a cidade não tinha fontes hídricas potáveis própria. A água que chegava até ela por meio de aquedutos era uma água morna ruim para beber.


João usa palavras opostas para descrever a situação na igreja em Laodiceia (Ap 3:15-16). As palavras ζεστός [zestos] e ψυχρός [psychros], que significam respectivamente “fervente” e “frio glacial”. A igreja não é nem uma coisa, nem outra, ela é χλιαρὸς [chliaros] “morna”. E é exatamente por essa “mornidão” que Cristo diz: “estou a ponto de vomitá-lo da minha boca” (Ap 3:16).


Essa mesma comparação antagônica acontece em Apocalipse 3:17, quando Laodiceia diz: “Sou rico, estou bem de vida e não preciso de nada”, e Cristo contrapõe essa ideia com: “você não sabe que é infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu”. A palavra usada aqui para “pobre” é “πτωχός [ptōchos], que literalmente significa “extremamente pobre”; “pobre como um mendigo”. Além disso, as palavras “cego” e “nu” são claras referências opostas às características mais evidentes da cidade, e por consequência da igreja.


Em Apocalipse 3:17, Cristo aconselha aos leitores em Laodiceia a deixarem de lado o orgulho, a autossuficiência e a confiança nas construções humanas. Deus mostra que as riquezas humanas e posses terrenas (ouro, tecido, colírio) não são nada. A visão da igreja em Laodiceia está extremamente distorcida, quando pensam que prosperam, não se dão conta que estão substituindo o poder divino pelo êxito fictício de um sucesso enganoso.


A última carta para as igrejas na época de João parece ser também correspondente com a última fase da igreja cristã nesta Terra. As características são extremamente similares com os dias atuais. Uma igreja que luta contra a indiferença e busca por sua autenticidade em um mundo que prega o “sucesso” a qualquer custo.


Para João, a solução para a indiferença e a “cegueira” de Laodiceia é seguir o conselho de Cristo. Deixar de lado a confiança alucinada nas respostas humanas e entregar nas mãos dEle o futuro. “Arrepender-se” (Ap 3:19) e confiar nAquele que reverte toda a dinâmica meramente humana (Mt 20:16): os que se acham ricos, bem vestidos e que enxergam melhor que os outros, são na verdade pobres, cegos e nus (cf. 2 Sm 10:4-5, Is 20:4; Ez 16:37-39; Na 3:5; Ap 17:16; Lc 15:22; Ap 16:15).


Em Apocalipse 3:18 Cristo oferece “ouro refinado pelo fogo” (cf. 1 Pe 1:7); “vestes brancas para se vestir” (cf. Gn 41:42; 2 Rs 25:29; Et 6:6-11; Dn 5:29) e “colírio para ungir os olhos” (cf. Is 6:5; Jo 11:40; Sl 19:8) afim de que o ser humano possa ver verdadeiramente a realidade da vida através da lente do Reino de Deus.


A resposta para a ilusão de Laodiceia é ouvir a voz dAquele que bate (Ap 3:20). O interessante neste verso é que quem espera a abertura da porta é o próprio Deus e não o homem. Ele toma a atitude de “bater” (gr. κρούω [krouō], o tempo presente sugere uma ação contínua) e aguarda o ser humano abrir e aceitar a Sua presença como convidado para comer uma refeição juntos. No mundo antigo comer com alguém era um ato extremamente íntimo e de confiança mútua (Sl 23:5-6; Mt 16:27-30). A ideia aqui é de reciprocidade entre a fé do ser humano e o amor de Deus.


Jesus faz uma promessa para aquele que vence: “darei o direito de sentar-se comigo no meu trono” (Ap 3:21). Os “tronos” da época de João eram como “sofás” onde cabiam mais de uma pessoa. Sentar no trono junto com o rei era considerado a mais alta honra que alguém poderia receber em vida (cf. 1 Rs 2:19; Sl 110: 1; 1 Ed 4:29). O direito é dado àquele que ouve e obedece a voz do Espírito (Ap 3:22) que fala nas sete cartas. Ele ganha o privilégio e o poder de governar com Cristo em ocasião da sua Segunda Vinda.


O conhecimento de Deus e a verdadeira religião deve lutar contra qualquer sentimento de autossuficiência de Laodiceia e orgulho por algo que não conseguimos ser por nós mesmos. Toda a impressão de glória e sucesso conquistado nessa Terra, naquele grande dia, será quebrado por Aquele que subverte a realidade mundana pela realidade do Reino de amor, misericórdia e genuína vitória!



“Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel” Hb 10:23 NAA


Referências:


DOUKHAN, Jacques. Secrets of Revelation: The Apocalypse Through Hebrew Eyes. Hagerstown: Review and Herald Publishing Association, 2002.

STEFANOVIC, Ranko. Plain Revelation: a reader’s introduction to the Apocalypse. Berrien Springs: Andrews University Press, 2013.


STEFANOVIC, Ranko. Revelation of Jesus Christ : commentary on the book of Revelation. Berrien Springs: Andrews University Press, 2002.


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