Chegamos na parte final do capítulo 5 (vs. 7-14), onde nos é apresentada a vitória do único digno e Sua união com o Pai em Seu trono. A cerimônia de entronização de Cristo remonta os eventos de coroação dos reis no AT. Podemos facilmente destacar semelhanças quanto à forma que é apresentada a solenidade em Apocalipse com as cerimônias de coroação/entronização no Mundo Antigo. Esse conjunto de interpretação a seguir parece estar em harmonia com a compreensão mais natural do texto pretendida por João, seu autor.
A investidura do novo rei consistia no uso de emblemas reais (2 Rs 11:12), seguida do rito da unção, que era o elemento essencial do ritual de coroação (2 Sm 2: 4; 5:3; 1 Rs 1:34, 39; 2 Rs 23:30). A unção significava a eleição divina e a vinda do Espírito de Deus que toma posse do rei ungido (cf. 1 Sm 10:10; 16:13).
Em Deuteronômio 17:18-20 vemos que o rei deveria ser o guardião da lei de Deus. Seu dever era constantemente guardar a Lei e instruir o povo na Lei divina. Nesses versos, vemos que é a primeira vez que a entronização do rei está relacionada com o pergaminho ou rolo. Perceba que, em Apocalipse, não temos o pergaminho/rolo aberto, o livro ainda continua selado, ele só é pego pelo Cordeiro (Ap 5:8).
Assim é mostrado o exato momento em que o Cristo ressuscitado - no templo ou palácio celestial (no livro de Apocalipse não existe distinção nem de um nem de outro) - se aproxima do trono e tira o livro selado do trono à direita de Deus como o símbolo da transferência de toda autoridade e soberania que Satanás tentou reivindicar .
Em Israel, a entronização do rei consistia em dois atos: a coroa na cabeça, o rolo do livro na sua mão, e, após isso, o príncipe era aclamado rei. Identificamos isso claramente na entronização do rei Joás, por exemplo (I Sm 10:25; 2 Rs 11:12).
O rei empossado tornava-se assim o messias (do hebraico: “ungido”) do Senhor (cf. I Sm 24: 7,11; 26: 9, 11, 16, 23; 2 Sm 1: 14-16; 19:22; Lm 4:20). A cerimônia de coroação era concluída com alegre aclamação ao novo soberano pela multidão reunida, tanto os dignitários da nação quanto os cidadãos do reino participavam (1 Rs 1:34, 39; 2 Rs 11:12, 14).
Ao oferecer aclamação em homenagem ao rei recém-coroado, as pessoas reconheciam a autoridade do rei e se submetiam a ela. Após o ritual de coroação no santuário, a multidão reunida deixava o santuário e dirigia-se ao palácio real onde o novo rei ocupava o trono (cf. 1 Rs 1:46; 2 Rs 11:19), acompanhada pelo louvor e alegria da multidão, gritos de aclamação, que pertenciam apenas a realeza, eram entoados (2 Rs 11:20).
Embora no AT a cerimônia festiva tratava-se de um contexto mais específico e local do povo de Israel, em Apocalipse nos deparamos com uma abrangência inovadora e de proporções universais contida no “cântico novo” entoado pelas orações dos santos:
“Digno és de pegar o livro e de quebrar os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra” (Ap 5:8-10, grifo nosso).
Nestes versos, é possível perceber a amplitude e dimensão inclusiva do sacrifício do Cordeiro que se torna Rei e oferece redenção. Através de Sua vida, morte, ressurreição e entronização alcança a todos e não faz acepção de nenhuma pessoa.
O privilégio de se tornar co-regentes e sacerdotes deste reino vindouro é oferecido a “toda criatura que há no céu e sobre a terra, debaixo da terra e sobre o mar, e tudo que neles há” (Ap 5:13).
A boa notícia da salvação em Cristo Jesus é anunciada e confirmada através de sua vitória como Senhor e Rei de toda a terra! A salvação é dada a todos, a graça é ofertada a mim e a você. A vitória é inevitável, o resgate é certo, a redenção está garantida. “Amém!” (Ap 5:14).
Referências STEFANOVIC, Ranko. Revelation of Jesus Christ : commentary on the book of Revelation. Berrien Springs: Andrews University Press, 2002.