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  • Foto do escritorO Caleidoscópio

#32 A expectativa universal - Parte 1


O capítulo 5 do livro de Apocalipse é uma continuação do que acontece no capítulo 4. A cena continua a se desenrolar e a questão que é deixada suspensa no capítulo 4 : “Quem é digno de quebrar os selos e abrir o livro?” (Ap 5:2), começa a ser respondida com um sujeito específico e bem definido.


A aparente incapacidade de ninguém ser merecedor de tal ação gera uma expectativa e uma clara impossibilidade para João, ele conclui: “Ora, nem no céu, nem sobre a terra, nem debaixo da terra, ninguém podia abrir o livro, nem mesmo olhar para ele” (Ap 5:2).


Parece que nesse momento há um silêncio que nem o próprio João pode suportar, pois no verso seguinte João demonstra desesperança perante à questão. Ele não enxerga ninguém que possa quebrar, abrir e nem mesmo olhar o livro (note no verso 2 é adicionada mais uma impossibilidade: “nem mesmo olhar” que enfatizando ainda mais a legítima incapacidade).



João está desolado, pois ele entende que a abertura dos selos e a abertura do livro é algo impossível. A agonia é tão grande que ele mesmo descreve: “E eu chorava muito, porque ninguém foi achado digno de abrir o livro, nem mesmo de olhar para ele” (Ap 5:4). A palavra usada por João aqui é o verbo “chorar” (gr. κλαίω [klaiō]) que significa literalmente entristecer, lamentar, queixar-se. Essa mesma palavra é usada no contexto de luto e de profundo desânimo por causa da morte (Mt 2:18; Mc 5:39; Jo 20:11; Jo 11:33).


É interessante perceber que na grande maioria das situações onde ocorre do verbo “chorar” (gr. κλαίω [klaiō]) no NT o próprio Jesus está envolvido e é agente protagonista que transformar a impossibilidade em possibilidade! Alguns exemplos nos chamam muita atenção:

  • A ressurreição da filha de Jairo: “— Por que vocês estão alvoroçados e chorando? A criança não está morta, mas dorme” (Mc 5:39);

  • A ressurreição de Lázaro: “Quando Jesus viu que ela chorava, e que os judeus que a acompanhavam também choravam, agitou-se no espírito e se comoveu” (Jo 11:33);

  • O nascimento e a sobrevivência de Jesus: “Vendo-se iludido pelos magos, Herodes ficou muito furioso e mandou matar todos os meninos de Belém e de todos os seus arredores, de dois anos para baixo, conforme as informações que havia recebido dos magos a respeito do tempo em que a estrela havia aparecido. Então se cumpriu o que foi dito por meio do profeta Jeremias: ‘Ouviu-se um clamor em Ramá, pranto e grande lamento; era Raquel chorando por seus filhos e inconsolável porque eles já não existem’” (Mt 2:16-18);

  • A ressurreição de Jesus: “Então eles perguntaram: — Mulher, por que você está chorando? Ela respondeu: — Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram. Depois de dizer isso, ela se virou para trás e viu Jesus em pé, mas não reconheceu que era Jesus” (Jo 20:13-14).


O choro de João é compreensível porque ele sabia que só um ser divino poderia quebrar os selos e abrir o livro. A “dignidade” neste contexto fica evidente que significa uma qualificação única que ninguém possui a não ser o próprio Deus. Uma qualidade exclusiva que O permitiria reivindicar o trono e governo, como também o afeto e lealdade de seus súditos. Alguém que venceu a morte e está pronto para ser entronizado como “Rei dos reis e Senhor dos senhores”.


O cenário que é descrito ao longo desse início de capítulo funciona como um anúncio de enredo do que virá a seguir. As lágrimas do profeta expressam o desejo de resolução. A expectativa cresce cada vez que avançamos na narrativa do capítulo 5. O choro de João de agonia, desespero e falta de esperança está prestes a se transformar em alegria e segurança, o Único digno entrará em cena, “pois nada é impossível para Deus” (Lc 1:37).


Bem-aventurados são vocês que agora têm fome, porque serão saciados. — Bem-aventurados são vocês que agora choram, porque vocês hão de rir. Lc 6:21



Referências:


DOUKHAN, Jacques. Secrets of Revelation: The Apocalypse Through Hebrew Eyes. Hagerstown: Review and Herald Publishing Association, 2002.

STEFANOVIC, Ranko. Revelation of Jesus Christ : commentary on the book of Revelation. Berrien Springs: Andrews University Press, 2002.


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