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  • Foto do escritorO Caleidoscópio

#39 [Ap 6:5-8] Os selos e o Antigo Testamento - Parte 1


O entendimento dos selos passa pelo caráter simbólico do livro do Apocalipse. Muitos elementos na cena dos selos (como as cores dos cavalos) não se encaixam numa compreensão literal. A estrutura de como é construída a cena nos diz que o significado teológico de Apocalipse 6 é muito mais profundo do que uma cena apenas descrita para a época do autor.


O conceito de “quebrar os selos” apresentado por João em Apocalipse não é algo novo para quem leu o Antigo Testamento e usa como base para interpretar o que ele escreve (saiba mais aqui).


Quando analisamos o panorama histórico-cultural Antigo Testamento entendemos melhor como funcionava a “abertura dos selos” relatados em Apocalipse. No Antigo Oriente Médio quando um rei recém-coroado assumia seu lugar no trono, o destino de toda a nação era colocado em suas mãos. As cerimônias de entronização do Antigo Testamento eram geralmente seguidas por ações de julgamento de um rei recém-entronizado quando ele punia aqueles que se mostravam desleais e rebeldes; ele também conferiria benefícios favoráveis ​​aos leais adeptos (cf. 1 Rs 2; 16:11; 2 Rs 9:14-10:27; 11:1, 13-16).


Nos Salmos 2 e 110, que originalmente se referiam aos reis israelitas, o rei davídico ungido e entronizado deveria exercer autoridade para reinar julgando aqueles que eram rebeldes. Este aspecto de julgamento é expresso na visão da abertura dos selos. Em Apocalipse 6-8:5, a ação de Cristo recém-entronizado, retratado na quebra dos sete selos, desencadeou uma cadeia sequencial de eventos na terra: guerra e massacre, fome e peste.


A linguagem encontrada em Apocalipse 6-8:5 segue claramente o padrão das maldições da aliança e a sua execução no contexto do exílio babilônico. Depois que Deus libertou seu povo da escravidão do Egito, Ele fez um pacto com eles que continha certas estipulações. Se os israelitas se mantivessem fiéis a Deus, eles receberiam recompensas e bênçãos. Se não obedecessem ao pacto e continuassem em sua desobediência, entretanto, haveriam consequências finais que eram conhecidas como as maldições da aliança (cf. Dt 28:15-68; Lv 26:21-26).


As maldições da aliança eram, na fase inicial, julgamentos preliminares de Deus sobre seu povo. Eles tinham a intenção de acordá-los de sua condição de rebeldia. Tinha como objetivo conduzi-los ao arrependimento e o retorno para um relacionamento real com Deus.


As maldições da aliança, então, podem ser explicadas da seguinte maneira: quando Israel se tornasse infiel à aliança, Deus removeria seu poder protetor e as nações inimigas afligiriam o povo. Como resultado, eles trariam a espada contra os israelitas, as feras roubariam seus filhos e destruiriam seus rebanhos. A peste e a fome completariam a desolação da terra. Se o povo de Deus persistisse em seus pecados, a consequência final ocorreria: o exílio da terra prometida.


Essas consequências da quebra da aliança eram tão conhecidas e estereotipadas que não podiam deixar de ser compreendidas como consequência da recusa persistente de Israel em cumprir a aliança. Especialmente em Jeremias e Ezequiel, eles se tornaram termos técnicos para os “ais” da aliança pelos quais Deus puniu a apostasia, esforçando-se para levar o povo ao arrependimento (Jr 14:12-13; 15: 2-3; 21: 6-9; 24:10; 29: 17-18; Ez 5:12-17; 6:11-12; 14:12-23; 33:27-29). Deixando de se arrepender, tanto Israel quanto Judá tiveram que passar pelo exílio.


Porém, é importante perceber também que, na fase final, quando essas nações inimigas usadas por Deus como executoras do julgamento exageraram na punição do povo de Israel, Deus reverte os julgamentos e os volta contra essas nações inimigas, a fim de libertar seu povo. (ver Dt 32:41-43; Jl 3:2-7; Jr 51:24; Zc 1:12-15; Jr 50:17-20, 33-34; 51:24; Jl 3:19-21; Sf 3:19-20; Zc 14:3- 21).


Isso é apoiado pelo fato de que em Apocalipse 5, Cristo tomou o rolo selado da aliança como o símbolo de sua exaltação no trono celestial, o ato que representava a relação de aliança entre Ele e Seu povo. Sua entronização, portanto, marca o início da execução dos conteúdos da aliança. A dinâmica que aconteceu em todo o AT é paralela ao que acontece em Apocalipse 6-8:5, no momento em que Jesus Cristo quebra/abre os sete selos.


Assim, nos principais paralelos traçados entre o Antigo Testamento e o Apocalipse o que fica evidente é como Deus está profundamente envolvido com o futuro de Seu povo. A aliança de amor e compromisso feita por iniciativa divina se torna inviolável pelos méritos de Cristo Jesus, que deu a Sua vida para restaurar os termos iniciais da aliança e dar uma nova chance para sermos salvos através de Seu sangue. As ações realizadas por Ele foram unicamente em prol da salvação e arrependimento do ser humano.

“Assim diz o Senhor dos Exércitos: ‘Voltem para mim, e eu me voltarei para vocês’, diz o Senhor dos Exércitos.” Zc 1:3


Referências:

STEFANOVIC, Ranko. Revelation of Jesus Christ: commentary on the book of Revelation. Berrien Springs: Andrews University Press, 2002.


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