A 64 km ao leste da cidade de Pérgamo, localiza-se a cidade onde João direciona a sua próxima carta no capítulo dois de Apocalipse (Ap 2:18-29). A cidade de Tiatira, em comparação às outras seis cidades onde estavam localizadas as seis igrejas descritas por João, é uma metrópole com bem menos expressão.
A menor e menos importante cidade, não tinha relevância política, cultural e nem econômica. Os habitantes eram trabalhadores braçais, sem muitas riquezas e geralmente trabalhavam na produção de artigos de púrpura e lã reais ou na indústria de tingimento, em contraste com os cidadãos das cidades anteriores (Éfeso, Esmirna, Pérgamo).
Se em Pérgamo, os falsos ensinamentos estavam se alastrando na igreja, em Tiatira as heresias começam a se consolidar. Agora não por forças externas e sim por influência interna de grupos de dentro da própria igreja. Historicamente, só há um período na história da igreja cristã, onde podemos comparar com igreja em Tiatira, onde a ameaça para a igreja não veio de fora, mas de dentro: A “Idade das Trevas” ou a Era Medieval (590 a 1517 d.C.), onde a tradição substituiu arbitrariamente a Bíblia e o sacerdócio humano substituiu o sacerdócio divino.
Enquanto em Pérgamo o símbolo da influência pagã eram os balaamitas e os nicolaítas (Ap 2:14-15), na igreja em Tiatira, a heresia e o paganismo eram retratados como uma mulher, que se dizia profetisa e se chamava Jezabel (Ap 2:20).
Na Bíblia, especialmente no AT, Jezabel aparece como uma rainha, mulher de Acabe, rei de Israel (I Rs 16:31-33). Ela levou, através de sua influência pagã, todo o povo, incluindo o próprio rei a adorar ao deus Baal. Quem fosse contra os deuses pagãos e permanecesse fiel ao Deus verdadeiro, era duramente perseguido, assim como foi próprio profeta Elias (I Rs 17-18).
A heresia e o falso ensino se tornaram algo oficializado em Israel. Semelhantemente na igreja de Tiatira, a adoração pagã e as participações nos rituais cívicos que envolviam imoralidade sexual e comida sacrificada aos ídolos (Ap 2:20). Cada vez mais os cristão em Tiatira se distanciavam das Escrituras. E pela influência de Jezabel (símbolo do falso profetismo, paganismo e heresia) a autoridade exclusiva divina, era menosprezada e substituída.
Interessante notar que apesar de cidade Tiatira ser a menor e a com menos expressão no cenário das sete igrejas, a mensagem escrita por João para ela é a mais longa de todas. A carta menciona em seu conteúdo “todas as igrejas” (Ap 2:23), pois o que acontece na igreja em Tiatira poderia acontecer com qualquer igreja. As sete igrejas podiam não estar numa mesma situação, mas tinham muitas semelhanças.
Quando a opinião pessoal e o sentimento de superioridade tomam o lugar da palavra de Deus e Sua verdade, o resultado é sempre o mesmo: ódio, perseguição e intolerância. Nenhuma comunidade religiosa estava imune ao que acontecia em Tiatira. Devemos, contudo, notar que Deus não direciona Sua ira contra indivíduos específicos, mas contra instituições e sistemas que vão contra o evangelho pregado por Cristo.
Na parte final da carta (Ap 2:21-23) após ter dado oportunidade de arrependimento (para saber mais sobre o “chamado ao arrependimento” veja carta à Éfeso ), Jesus, descrito como na primeira visão de João (cf. Ap 1:14-15) pronuncia um severo julgamento para a falsa profetisa e seus seguidores, ou “seus filhos”, uma clara alusão à 2 Rs 10:6-8 (onde foram mortos os filhos do rei Acabe). Todo o furor agora repousa sobre aqueles que tiveram oportunidade mas não se arrependeram dos seus maus caminhos e deliberadamente praticam a imoralidade.
Porém, mesmo na igreja em Tiatira, Deus tinha Seu povo que permanecia fiel e que não abriu mão dos princípios da verdade (Ap 2:24-25). João descreve quatro virtudes deles: amor, fé, serviço e perseverança (Ap 2:19).
Para esse remanescente, que não dobrou seus joelhos (I Rs 19:18) aos falsos deuses, são feitas duas promessas: (1) “autoridade sobre as nações” (Ap 2:26) uma promessa que possui eco no Salmo 2:8-9 onde é prometido o Messias, o Ungido, filho de Deus, aquele que verdadeiramente tem a autoridade e é a palavra final contra todo tipo de heresia e ensinamentos errôneos; (2) a “Estrela da Manhã”, uma referência a Números 24:17, onde o próprio João a interpreta como Jesus Cristo em Apocalipse 22:10.
Os problemas que são apresentados nas igrejas, são problemas universais de todas as igrejas. As soluções apresentadas são também soluções universais. A promessa que Cristo oferece no final da carta à Tiatira àqueles que são fiéis, é Ele mesmo! A Sua segunda vinda deve ser o maior motivo de encorajamento e deve ser aguardada como a grande libertação final de todo o povo de todas as eras, aqueles que foram genuínos seguidores do verdadeiro Deus.
“Mas vem a hora — e já chegou — em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. Porque são esses que o Pai procura para seus adoradores” Jo 4:23
Referências:
DOUKHAN, Jacques. Secrets of Revelation: The Apocalypse Through Hebrew Eyes. Hagerstown: Review and Herald Publishing Association, 2002.
STEFANOVIC, Ranko. Plain Revelation: a reader’s introduction to the Apocalypse. Berrien Springs: Andrews University Press, 2013.
STEFANOVIC, Ranko. Revelation of Jesus Christ : commentary on the book of Revelation. Berrien Springs: Andrews University Press, 2002. #Apocalipse #Revelacao