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  • Foto do escritorO Caleidoscópio

#05 [Introdução] Métodos de Interpretação

Atualizado: 30 de ago. de 2020


O Apocalipse talvez seja o livro da Bíblia com mais maneiras distintas de interpretação do seu conteúdo. Muito da dificuldade que temos de entendê-lo se dá pelo fato de a maioria das abordagens para entender o livro serem tendenciosas e subjetivas.

O que iremos propor ao longo de nosso estudo é que analisemos as principais abordagens, e, na medida do possível, combinemos elementos bem embasados das melhores abordagens na exposição do livro.

Tradicionalmente, quatro métodos de interpretação têm sido usados. Vamos destacar as características principais de cada um e ver como podemos extrair princípios úteis de cada abordagem.


Preterismo. O método preterista sustenta que o livro de Apocalipse trata principalmente da situação da igreja cristã na província romana da Ásia no primeiro século d.C. Portanto, o livro não conteria nenhuma profecia preditiva. O objetivo de João ao escrever era encorajar a igreja a enfrentar perseguições iminentes por Roma imperial e incentivar os cristãos a permanecerem perseverantes, porque o Senhor viria em resgate de Seu povo, derrotando o império Romano e estabelecendo Seu reino.

O problema dessa abordagem é que a perseguição que os cristãos sofreram no primeiro século foi apenas local e não universal (Ap 2:10, 13; 3:10), sob a qual o próprio João sofreu exilado em Patmos (Ap 1: 9).


Idealismo. O método idealista descarta qualquer historicidade dos símbolos encontrados no livro de Apocalipse. Em vez disso, o significado básico do Apocalipse seria o conflito contínuo do bem contra o mal e não pode ser aplicado a nenhum período ou lugar histórico na Terra. Apesar de se basear em ideias do método preterista, os símbolos apresentados no livro não se referem a nenhum evento histórico específico. A ênfase deste método está nos princípios atemporais e não vê significado literal ou histórico dos escritos de João.

Ao usar apenas esse método, desconsideramos boa parte da aplicação que o livro tem em relação aos eventos que ocorreram no passado, como também despreza a aplicação para o futuro. Esse método é desenvolvido com base na interpretação alegórica (método usado nos tempos medievais) do Apocalipse.

Essa visão ignora um dos princípios básicos de aplicabilidade e interpretação bíblica que é sempre encarar o contexto e local imediato, o panorama da época do autor do livro e se o que o autor escreve tem aplicação também para o futuro.


Futurismo. O método futurista sustenta que o Apocalipse (particularmente os capítulos 4-22) é uma série de eventos que ocorreria no futuro, uma profecia que acontece imediatamente antes e depois da Segunda Vinda de Cristo. O livro seria relevante apenas para a última geração de cristãos que vivem no tempo do fim. Hoje, é o método usado pela maioria dos cristãos evangélicos protestantes.

Se interpretamos o livro de Apocalipse apenas com essa perspectiva, podemos cair no erro de desprezar por completo o contexto que o autor estava inserido, quando ele se refere às sete igrejas da Ásia no início do livro. Esse método de interpretação não leva em consideração o passado histórico (falamos mais sobre o panorama histórico da época aqui).


Historicismo. O método histórico defende que o livro de Apocalipse fornece uma apresentação simbólica do esboço profético desde os tempos apostólicos até o tempo do fim. Assim, as profecias preditivas estariam em processo de cumprimento.

Esta linha de interpretação sugere que o livro de Apocalipse está profundamente relacionado com o livro de Daniel, que trata períodos sequenciais da história e que os símbolos usados no livro de João retratam fatos históricos da igreja cristã.

João escreve para sua época como também para épocas posteriores à dele. As profecias contidas no livro teriam cumprimento no curso da história. O conteúdo do livro cobre o período desde a ascensão de Cristo ao céu até seu retorno à terra.

A abordagem historicista às vezes é problemática por causa do esforço para encaixar todos os detalhes do texto em um cumprimento histórico. O estudo do texto para muitos historicistas é baseado principalmente no método alegórico (que consiste no uso de linguagem figurada como modo de interpretação) e não com base nas referências encontradas dentro da própria Bíblia no Antigo e Novo Testamento.

Como você pôde perceber, cada método interpretativo é vulnerável a críticas. Todas as abordagens acima têm alguns elementos de verdade. O estudioso do Apocalipse deve entender que é essencial o uso de todas as abordagens. “Cada abordagem tem alguma contribuição importante para uma compreensão completa do Apocalipse […] nenhuma abordagem é suficiente [1].”

O livro de Apocalipse possui assuntos, temas e princípios válidos para todas as gerações de cristãos em toda a história e em todo o mundo. “Por causa da universalidade do grande conflito entre o bem e o mal, as mensagens do Apocalipse encontram repetidas aplicações para o povo de Deus em toda história [2].”

Neste estudo, você será encorajado a deixar o texto bíblico guiar a sua interpretação. É crucial deixar a própria Bíblia (AT e NT) nos dizer o que devemos encontrar no livro. Se usarmos isso como nosso foco principal, todos os métodos - sejam eles preterista, idealista, futurista ou historicista - irão trabalhar juntos para nos ajudar na jornada de interpretação do livro de Apocalipse.


[1] MOUNCE, Robert H. The Book of Revelation. The New International Commentary on the New Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1977. p. 43.


[2] JOHNSSON, William G. The Saints' End-Time Victory Over the Forces of Evil. In: Symposium on Revelation Book 2, Daniel and Revelation Committee Series 7. Silver Spring: Biblical Research Institute, 1992. p. 22.

Referências:

STEFANOVIC, Ranko. Plain Revelation: a reader’s introduction to the Apocalypse. Berrien Springs: Andrews University Press, 2013.

STEFANOVIC, Ranko. Revelation of Jesus Christ : commentary on the book of Revelation. Berrien Springs: Andrews University Press, 2002.





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